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O PROBLEMA DOS NOSSOS TRÊS CORPOS

Forças Gravitacionais

Os três corpos (executivo, legislativo e judiciário) recentemente passaram a ter trajetórias caóticas e imprevisíveis

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OPINIÃO

Parlamentar usa analogia com ciência para expor crítica ao que considera ataques à LIBERDADE, TRANSPARÊNCIA, SEGURANÇA JURÍDICA e DEVIDO PROCESSO LEGAL

Recentemente foi lançada pela Netflix uma série sobre o problema dos três corpos. Um problema famoso na matemática e na física que trata de prever os movimentos de três corpos (partículas, planetas, estrelas, etc.) que interagem entre si pela gravidade, sob as leis da mecânica.

Resumindo, o objetivo é antever o percurso dos três corpos, sabendo que são afetados apenas pela gravidade entre si. O problema é difícil porque não existe uma fórmula na física ou na matemática que traga uma solução geral para descrever como os corpos vão se movimentar.

Isso ocorre porque o movimento de um corpo sempre repercute no outro, o que leva a um complexo quebra-cabeças. Mal comparando com o cubo mágico, seria como os “redondos mágicos”.

O Brasil, além das forças gravitacionais que regem o sistema solar, tem um subsistema composto por três corpos que por muito tempo ficou em perfeito equilíbrio, independentes e harmônicos entre si, com “estações” bem definidas e temperatura sem alterações abruptas.

Tudo muito bem regido pelas leis da mecânica do físico/filósofo Montesquieu. Os três corpos (executivo, legislativo e judiciário) recentemente passaram a ter trajetórias caóticas e imprevisíveis, colocando o país sob constantes sobressaltos.

O campo gravitacional de um dos corpos tem se avantajado, causando desequilíbrio ao sistema. Pilares importantes como LIBERDADE, TRANSPARÊNCIA, SEGURANÇA JURÍDICA e DEVIDO PROCESSO LEGAL ficaram no passado como algo certo.

Esse desequilíbrio gera efeitos colaterais por todo o país. Recentemente, um juiz liberou, em audiência de custódia, três traficantes flagrados com 429 quilos de cocaína; outro juiz mandou prender um jornalista por críticas; um procurador do Ministério Público Federal (MPF) pediu o cancelamento da outorga da emissora Jovem Pan e como se não bastasse, o Tribunal de Contas da União (TCU) convalida o sigilo da lista de autoridades que utilizam voos da FAB (Força Aérea Brasileira).

O perigo é maior do que podemos imaginar. As leis da física não se aplicam mais e o caos impera. Tudo está no modo “relativo”, mas não sei se a teoria da relatividade geral é capaz de explicar o problema dos nossos três corpos.

José Medeiros é formado em Matemática, Direito, foi Policial Rodoviário Federal por mais de 22 anos, é ex-senador e atual deputado federal por Mato Grosso, pelo PL

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OPINIÃO

Antes que setembro acabe

Período para a chamada de consciência, pedido de cuidado com a saúde mental e a solicitação de rede de apoio para a abertura de conversas

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Foi inspirado no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10/09) que o mês de setembro foi escolhido como o mês de alerta para os cuidados da saúde mental, para quebra de tabus sobre doenças emocionais e os transtornos mentais. É uma ação que ocorre mundialmente desde o ano de 1994. No Brasil foi instituído em 2013, com o lema “Se precisar, peça ajuda”, a cor amarela, a fita e o girassol compõem os símbolos da campanha.

A demarcação do período para a chamada de consciência, para o pedido de cuidado com a saúde mental e a solicitação de rede de apoio para a abertura de conversas sobre a temática são caminhos importantes para desmistificar as doenças mentais e também para salvar vidas. Para além disso, consideramos oportuno ampliar nossos olhares. Mais do que trazer soluções e respostas, apresentamos questionamentos que podem levar a outros caminhos para o grande desafio do cuidado com a saúde mental e com o bem-estar.

Para começar: essa campanha de setembro amarelo está a serviço de quem? As pessoas vivem e enfrentam muitos desafios o ano inteiro. Ousamos dizer que as pessoas que fogem do padrão heteronormativo, as que são colocadas às margens, que tem seus direitos desrespeitados, as que convivem diariamente com abusos e violências das mais diferentes formas sofrem todos os dias. Será que todos os problemas são realmente da ordem da saúde mental?

Outras perguntas que precisamos nos fazer: será que a nossa sociedade é a grande produtora de adoecimento psíquico das pessoas? Por que as pessoas que estão fora do que é dito como “padrão” não são apoiadas, acolhidas e amadas como elas são e devem ser? Por que o sofrimento é colocado como algo a ser combatido, muitas vezes com soluções rápidas e pouco efetivas? Por que temos dificuldades de perceber a raiz dos incômodos e das causas dos sofrimentos das pessoas?

Mais questões que podem nos ajudar a sair das nossas bolhas: O que o sofrimento faz com as pessoas? Quais são os reais produtores de adoecimento mental e físico das pessoas? Como os marcadores, raça, cor de pele, gênero, orientação sexual, crença, classe, idade, geração, dentre outros atravessam a saúde das pessoas? O sofrimento é individual ou é causado por contextos, fatores, abusos e violências? O que acontece com uma pessoa que tem sua identificação, sua escolha e sua decisão de vida negados e ignorados? Como apreender as questões que envolvem o sofrimento a partir das leituras sociais?

Ainda, mais problematizações que podem indicar outros olhares e sensações: Quais corpos recebem cuidado e atenção, de fato no atendimento e tratamento da saúde mental? Por que ainda alguns corpos são escolhidos e outros preteridos? O que significa a expressão: “O outro/ aquele outro?” Quem são as pessoas que são colocadas às margens da nossa sociedade e são lidas como fora da curva? Por que isso ocorre?

E também essas questões: ainda vivemos numa sociedade que prevalece “modelos” e “padrões” de ser, viver e pertencer enquanto cidadãos? Como as dores são lidas pela nossa sociedade e quais são eleitas como legítimas? De onde e quais perspectivas ocorrem essas escolhas? Quais grupos sociais têm segurado o zelo e o bem-viver? O que, de fato, nós precisamos: politizar o sofrimento ou despatologizar a vida?

São muitas as perguntas que perpassam o nosso nascer, viver e o morrer. Há tantas questões que atravessam o nosso existir! O mês de setembro é importante, mas precisamos de mais conversas, mais alertas e mais cuidados todos os meses do ano, porque a vida é cheia de mistérios, é envolvida por muitos contextos e fatores sociais.

Julianne Caju é Jornalista, Professora e Pesquisadora.

Giselle Nunes é Psicóloga, Professora e Pesquisadora.

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